HOMILIA DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe 1. “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado!” (Mt 11, 25-26). Queridos Irmãos e Irmãs, estas palavras de Jesus no Evangelho deste dia constituem, para nós, um convite especial para louvar e dar graças a Deus pela dádiva do primeiro Santo indígena do Continente americano. 2. Agradeço as amáveis palavras que me foram dirigidas pelo Senhor Cardeal Norberto Rivera Carrera, Arcebispo da Cidade do México, assim como a calorosa hospitalidade dos homens e das mulheres desta Arquidiocese Primaz: dirijo-vos a todos a minha cordial saudação. Saúdo também com afeto o Senhor Cardeal Ernesto Corripio Ahumada, Arcebispo Emérito da Cidade do México, e os outros Purpurados, Bispos do México, da América, das Filipinas e de outras regiões do mundo. Agradeço igualmente, e de maneira particular, ao Senhor Presidente da República e às Autoridades civis a sua presença nesta celebração. Hoje, dirijo uma saudação muito especial aos numerosos indígenas provenientes das diferentes regiões do País, representantes das diversas etnias que compõem a rica e multiforme realidade mexicana. O Papa manifesta-lhes a sua proximidade, o seu profundo respeito e admiração, enquanto os recebe fraternalmente em nome do Senhor. 3. Como era Juan Diego? Por que motivo Deus fixou o seu olhar nele? Como acabamos de escutar, o livro do Eclesiástico ensina-nos que somente “Deus é todo-poderoso e apenas os humildes o glorificam” (cf. 3, 19-20). Inclusivamente as palavras de São Paulo, também proclamadas durante esta celebração, iluminam esta maneira divina de realizar a salvação: “Deus escolheu aquilo que o mundo despreza [e que é insignificante]. Deste modo, nenhuma criatura se pode orgulhar na presença de Deus” (cf. 1 Cor 1, 28-29). É comovedor ler as narrações guadalupanas, escritas com delicadeza e repletas de ternura. Nelas, a Virgem Maria, a escrava “que proclama a grandeza do Senhor” (Lc 1, 46), manifesta-se a Juan Diego como a Mãe do Deus verdadeiro. Ela entrega-lhe, como sinal, um ramalhete de rosas preciosas e ele, mostrando-as ao Bispo, descobre gravada no seu manto (“tilma”) a imagem abençoada de Nossa Senhora. ” O acontecimento guadalupano como afirmaram os membros da Conferência Episcopal Mexicana significou o começo da evangelização, com uma vitalidade que ultrapassou qualquer expectativa. A mensagem de Cristo através da sua Mãe assumiu os elementos centrais da cultura indígena, purificou-os e atribuiu-lhes o definitivo sentido de salvação” (14 de Maio de 2002, n. 8). Desta maneira, Guadalupe e Juan Diego possuem um profundo sentido eclesial e missionário, e constituem um paradigma de evangelização perfeitamente inculturada. 4. Com o salmista, acabamos de recitar: “Do céu, o Senhor contempla e vê todos os homens” (Sl 33 [32], 13), professando uma vez mais a nossa fé em Deus, que não considera as diferenças de raça ou de cultura. Ao acolher a mensagem cristã, sem renunciar à sua identidade indígena, Juan Diego descobriu a profunda verdade da nova humanidade, em que todos são chamados a ser filhos de Deus em Cristo. Desta forma, facilitou o encontro fecundo de dois mundos e transformou-se num protagonista da nova identidade mexicana, intimamente vinculada a Nossa Senhora de Guadalupe, cujo rosto mestiço dá expressão da sua maternidade espiritual que abarca todos os mexicanos. Por isso, o testemunho da sua vida deve continuar a dar impulso à edificação da Nação mexicana, a promover a fraternidade entre todos os seus filhos e a favorecer cada vez mais a reconciliação do México com as suas origens, os seus valores e as suas tradições. Esta nobre tarefa de edificar um México melhor, mais justo e mais solidário, exige a colaboração de todos. Em particular, hoje em dia é necessário apoiar os indígenas nas suas aspirações legítimas, respeitando e defendendo os valores autênticos de cada um dos grupos étnicos. O México tem necessidade dos seus indígenas e os seus indígenas precisam do México! Amados Irmãos e Irmãs de todas as etnias do México e da América, ao exaltar neste dia a figura do índio Juan Diego, desejo expressar-vos a proximidade da Igreja e do Papa em relação a todos vós, enquanto vos abraço com amor e vos animo a ultrapassar com esperança as difíceis situações por que estais a passar. 5. Neste momento decisivo da história do México, tendo já passado o limiar do novo milénio, recomendo à valiosa intercessão de São Juan Diego as alegrias e as esperanças, os temores e as angústias do querido povo mexicano, que trago com muito afeto no íntimo do meu coração. Ditoso Juan Diego, índio bondoso e cristão, em quem o povo simples sempre viu um homem santo! Nós te suplicamos que acompanhes a Igreja peregrina no México, para que seja cada dia mais evangelizadora e missionária. Encoraja os Bispos, sustenta os presbíteros, suscita novas e santas vocações, ajuda todas as pessoas que entregam a sua própria vida pela causa de Cristo e pela difusão do seu Reino. Bem-aventurado Juan Diego, homem fiel e verdadeiro! Nós te recomendamos os nossos irmãos e as nossas irmãs leigos a fim de que, sentindo-se chamados à santidade, penetrem todos os âmbitos da vida social com o espírito evangélico. Abençoa as famílias, fortalece os esposos no seu matrimônio, apóia os desvelos dos pais, empenhados na educação cristã dos seus filhos. Olha com solicitude para a dor dos indivíduos que sofrem no corpo e no espírito, de quantos padecem em virtude da pobreza, da solidão, da marginalização ou da ignorância. Que todos, governantes e governados, trabalhem sempre em conformidade com as exigências da justiça e do respeito da dignidade de cada homem individualmente, para que desta forma a paz seja consolidada. Amado Juan Diego, a “águia que fala”! Ensina-nos o caminho que conduz para a Virgem Morena de Tepeyac, para que Ela nos receba no íntimo do seu coração, dado que é a Mãe amorosa e misericordiosa que nos orienta para o Deus verdadeiro. Ao concluir esta Canonização de Juan Diego, desejo renovar a minha saudação a todos vós que nela pudestes participar, alguns nesta Basílica, outros nos arredores e muitos outros ainda através da rádio e da televisão. Agradeço de coração o afeto de todas as pessoas que encontrei pelas ruas que percorri. No novo Santo, encontrais o maravilhoso exemplo de um homem justo, de costumes retos, leal filho da Igreja, dócil aos pastores, amante da Virgem e bom discípulo de Jesus. Ele seja um modelo para vós, que muito o amais, e oxalá interceda pelo México, a fim de que seja sempre fiel. Levai a todos quantos a mensagem desta celebração, além da saudação e do afeto do Papa a todos os mexicanos. • MENSAGEM DOS BISPOS MEXICANOS SOBRE A CANONIZAÇÃO DE JUAN DIEGO CIDADE DO MÉXICO, 6 de junho de 2002 (ZENIT.org) – Apresentamos a mensagem dos bispos mexicanos publicada na espera da canonização do beato Juan Diego Cuauhtlatoatzin 1. Depois de ter celebrado o mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo na Páscoa dos Pastores do Povo de Deus no México, queremos compartilhar com vocês, irmãs e irmãos, nossa alegria pela canonização do Beato Juan Diego Cuauhtlatoatzin no próximo 31 de julho do presente ano de 2002 e a beatificação, em 1 de agosto, de Juan Bautista e Jacinto de los Angeles, mártires ou oaxaqueños en los albores da evangelização do nosso país. Pedimos a todos que se preparem na oração, na reflexão e na celebração para viver este tão importante acontecimento da nossa vida eclesiástica. • QUINTA VISITA DE JOÃO PAULO II 2. João Paulo II nos visitará pela quinta vez. Reiteradamente manifestou seu amor pelo México, e descobriu, aos pés de Nossa senhora de Guadalupe, o matiz evangelizador e itinerante que teria seu pontificado, para iluminar a homens e mulheres com a verdade de Jesus Cristo. Seu exemplo de entrega incansável é para todos os membros da igreja um estímulo e testemunha viva de como impulsionar a Nova Evangelização. Será uma nova oportunidade para que correspondamos com afeto e entusiasmo, reiterando nossa fidelidade a Jesus Cristo e a sua Igreja em comunhão com o sucessor de São Pedro na Cátedra de Roma. • O CAMINHO DE JUAN DIEGO 3. Juan Diego é membro de uma cultura indígena com valores familiares e sociais que serviram de base para a vocação recebida depois de ter sido batizado. 4. Esta existência adquire um novo significado com o sucedido no mês de dezembro de 1531, na colina de Tepeyac. Este acontecimento é conhecido como o Fato Guadalupano, tendo como protagonistas a Mãe do verdadeiro Deus por quem se vive, o mesmo Juan Diego, o bispo Frei Juan de Zumárraga e Juan Bernardino: desde então, o laico Juan Diego está indissoluvelmente unido ao Fato Guadalupano. 5. Juan Diego é o embaixador fiel que, em contato com a cheia de graça, reconheceu o Verdadeiro Deus por quem vive e o Filho que ela trazia consigo; e movido pela ação do Espírito Santo, se colocou ao serviço da obra anunciada pela Virgem Maria. 6. Em diversas ocasiões e com diversos sinais se apresentou diante do Frei Juan de Zumárraga, cabeça visível da incipiente Igreja em México, transmitindo a ele e a ninguém mais o desejo da “menina celestial”, até conseguir sua encomenda. 7. O vidente e embaixador se deixou envolver pelo Espírito divino e aceitou se converter em testemunha de tudo o que tinha acontecido a favor de seus irmãos, cooperando desta forma na aproximação do mundo indígena com o mundo espanhol. 8. O fato Guadalupano significou o começo da evangelização com uma vitalidade que superou toda expectativa. A mensagem de Cristo através da sua Mãe tornou-se elemento central da cultura indígena, purificou e deu o definitivo sentido da salvação aos índios; assim se converteu no modelo de evangelização inculturada e um objetivo para todos os membros da evangelização que trabalham para fazer presente os valores do Evangelho nas culturas da sociedade mexicana. • SIGNIFICADO PARA A IGREJA NO MEXICO 9. Um santo é patrimônio da Igreja universal e modelo de vida para toda pessoa aberta a verdade. Juan Diego é um santo que se oferece ao indígena, ao mestiço e ao crioulo, ao menino, ao jovem e ao adulto. “Todos os cristãos – como nos recorda o Papa João Paulo II em sua carta apostólica Novo Milênio INEUNTE no 30 – são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição do amor”. O profesionista, a dona de casa e o clérigo podem encontrar em Juan Diego uma inspiração para saber valorizar o que são e o que estão chamados a realizar no ambiente em que vivem, para semear sementes de justiça, amor e paz e ajudar para que frutifiquem. 10. Canonizar um batizado significa que a autoridade competente da Igreja declara, pública e solenemente, que a existência de tal pessoa tem sido uma forma autêntica de encarnar o Evangelho de Jesus Cristo. Por ele, o santo é digno de veneração e invocação, e sua forma de vida um exemplo inspirador para que outros vivam a própria vocação no segmento radical de Cristo até chegar ao encontro definitivo com o Pai no reino dos céus. 11. A canonização do Beato Juan Diego se levanta como nova voz que chama à santidade todos os batizados. Queremos a presença de cada um deles na formação de um tecido social mais civilizado e mais inspirado na mentalidade da Santa Maria de Guadalupe: mostrar o amor e a ternura de Deus para todos os moradores destas terras, Diego é, por outra parte, uma forma de dignificar o indígena, tantas vezes marginalizado e menosprezado em nossa pátria. 12. Além disso, se faz evidente o amor providencial da Igreja e do Papa pelos indígenas; e reiteram novamente o firme repúdio às injustiças, violências e abusos de que foram objeto ao longo da historia. A Igreja contempla e convida a contemplar os autênticos valores indígenas com amor e esperança….o Papa, com a canonização, reanima aos povos autóctones do México e América a que conservem com santo orgulho a cultura de seus antepassados e apóia a todos os indígenas em suas legítimas aspirações e justas reivindicações. 13. A vida de Juan Diego tem de ser um renovado estímulo na construção da nação mexicana para que exista uma reconciliação com suas origens, com sua história, com seus valores e tradições. Nação na qual o progresso esteja fundamentado no valor da pessoa humana com todos seus direitos inalienáveis. Onde a confluência da diversidade encontre a comunhão na busca criativa. Onde as leis que salvaguardem a convivência assegurem a justiça e a solidariedade. Onde os mais fracos encontrem salvaguardada sua dignidade e aos mais favorecidos, apoioeficiente para a fraternidade. • CONCLUSÃO 14. A canonização de Juan Diego é a realização da promessa que a Menina de Tepeyac fez a seu querido Juan Dieguito, lhe garantiu e se realizou: Tenha certeza de que muito te agradecerei e te pagarei, que por ele te enriquecerei, te glorificarei, e muito de ali?? merecerás que eu retribua teu cansaço, com quem vai solicitar o assunto a que te envio”(Nicán Mopohua). Te pedimos a esta doce Mãe da nação mexicana, padroeira da América e de Filipinas, que nos ajude a assimilar sua pedagogia para realizar uma evangelização inculturada em todos os territórios, ambientes e setores do México e da América e interceda para que os homens aprendam a amar e aceitar (quem?) como filhos de um mesmo Pai. México, D. F. A 14 de maio de 2002 Pelos Bispos de México: • Mons. Luis Morales Reyes Arcebispo de San Luis Potosí Presidente da CEM • Mons. J.Guadalupe Martín Rábago Bispo de Leon Vice-Presidente da CEM • Mons. Abelardo Alvarado A. Bispo Aux. do México Secretario Geral da CEM • Mons. J. Guadalupe Galván Galindo Bispo de Torreón Tesoureiro Geral da CEM • Mons. Ricardo Watty Urquidi Bispo do Novo Laredo Vocal • Mons. Javier Navarro Rodríguez Bispo de San Juan de los Lagos Vocal
Quarta-feira, 31 de Julho de 2002
É com grande alegria que fiz a peregrinação até esta Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, coração mariano do México e da América, para proclamar a santidade de Juan Diego Cuauhtlatoatzin, o índio simples e humilde que contemplou o rosto dócil e sereno da Virgem de Tepeyac, tão querido a todas as populações do México.
No final da celebração, antes de conceder a Bênção apostólica a todos os fiéis ali presentes, o Santo Padre disse:
Ao Povo de Deus e a toda pessoa de boa vontade